Ceará
Personalidade - Lauro Maia Teles, o cearense que criou o balanceio!
Lauro Maia Teles (Fortaleza, 06/11/1913, Rio de Janeiro - 05/01/1950)
Arquivo Nirez
Nascido em Fortaleza, desde cedo se interessou pela música folclórica de sua terra, realizando diversas pesquisa sobre o tema. Foi o primeiro a tentar urbanizar ritmos locais com o lançamento do balanceio ("Marcha do Balanceio", gravada por Joel e Gaúcho, "Tão Fácil, Tão Bom", interpretada pelos Vocalistas Tropicais em meados da década de 40). No começo da década de 40, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde tocou em cassinos da cidade. Sua primeira composição, ?Eu Vi um Leão?, de 1942, foi gravada pelo grupo Quatro Ases e Um Curinga, que só viria a fazer sucesso dois anos depois, com outra marcha do músico: ?Trem de Ferro?. Com o cunhado Humberto Teixeira, compôs ?Só uma Louca Não Vê?, sucesso na voz de Orlando Silva, em 1945. Após sua morte, em 1950, suas músicas continuaram sendo gravadas e fazendo sucesso ? Carmélia Alves gravou ?Trem ô Lá Lá?, outra parceria com Teixeira, e Raul de Barros, o choro ?Faísca?. Até João Gilberto andou gravando suas canções, como em ?Trem de Ferro?, interpretada pelo baiano em 1961.
Lauro Maia e seu amigo Aleardo Freitas - Arquivo Nirez
Nascido em Fortaleza, Ceará, em 06 de novembro de 1913, ano de transição na vida política cearense, com derrubada de governantes (1912 e 1914) e o surgimento de muitas inovações. Lauro Maia participou intensamente da vida cultural da cidade. No piano da mãe, instrumento indispensável nas casas de classe média daquele tempo, Lauro ensaiou seus primeiros passos como músico e compositor. Foi de sua própria genitora que o garoto recebeu as primeiras aulas de teoria musical. Sua mãe era professora de teoria musical. Ainda com calças curtas, cursava o antigo ginásio, com apenas 13 anos, quando começou a apresentar-se, tocando piano no Cine-Teatro Majestic, em Fortaleza. Mais tarde, com o adoecimento do pianista titular, passou a substituí-lo.
Casa onde Lauro Maia nasceu (a da seta) na Avenida Visconde de Cauhype, hoje Avenida da Universidade, nº 1946, essa casa vizinha é a do Colégio Fortaleza, depois Clínica do Dr. Godoy - Arquivo Nirez
Em 1935 começou a trabalhar na Ceará Rádio Clube (1935/1941) dirigindo o programa "Lauro Maia e Seu Ritmo". A rádio era a única emissora de rádio que havia e que divulgava a música brasileira e de fora. Na mesma época, criou juntamente com Paulo Pamplona, Ubiraci de Carvalho, Roberto Fiúza e Antônio Fiúza, o Quinteto Lúpar. A consagração veio em 1937, através de um concurso de música carnavalesca, onde obteve primeiro lugar em duas categorias - marcha e samba - com as músicas Eu Sei O Que É e Eis O Meu Samba . O julgador era ninguém menos do que o já consagrado e exigente Ari Barroso. Em 1938, assumiu a direção artística da rádio e passou a dirigir a Orquestra Jazz PRE-9. Em 1942 compôs o samba Cara de judeu , grito de guerra da Escola de Samba Lauro Maia (1942/1945), que desfilou pela primeira vez, tornando-se grande sucesso em Fortaleza. Em 1943, o grupo Quatro Ases e Um Coringa gravou o xote Fa-Ran-Fun-Fan! e a marcha Trem de Ferro, maior sucesso da sua carreira e que seria regravada em 1961, dois anos após sua morte, também com grande sucesso, por João Gilberto. Ainda em 1943, Orlando Silva gravou o samba Febre de Amor. Em 1944, o Quatro Ases e Um Coringa gravou a marcha Palminha de Guiné. Ainda nessa época, freqüentou a faculdade de Direito vindo a abandoná-la mais tarde para fixar-se definitivamente no Rio de Janeiro.
Arquivo Nirez
Em 1945, casado com Djanira Teixeira, irmã de Humberto Teixeira, transferiu-se em definitivo para o Rio de Janeiro, para viver exclusivamente de suas composições, já consagradas na época pelos maiores nomes da música. Passou a se apresentar em casas noturnas e no Cassino da Urca. Embora o forte dele não fosse letra, pois era mais músico que letrista, a maior mudança que poderia acontecer ao chegar ao Rio foi aliar-se ao cunhado, Humberto Teixeira. Logo que chegaram, a mulher de Lauro Maia naturalmente entrou em contato com o irmão Humberto, e eles, parentes e compositores, acabaram se conhecendo no Rio. Foi aí que Humberto passou a burilar as letras do Lauro Maia, modificou, melhorou muito as composições. Muitas foram corrigidas ou adaptadas. Ficaram muito amigos e Humberto Teixeira se tornou seu maior parceiro. Lauro Maia transferiu-se para o rio com um novo ritmo na bagagem para ser lançado no mercado fonográfico. Ele trazia o balanceio (Eu Vou Até de Manhã), uma mistura dos ritmos típicos do nordeste com a marchinha carioca. O sucesso foi muito grande. No carnaval seguinte Lauro Maia fez uma adaptação da música para o ritmo carnavalesco, e quando fez a adaptação botou também o nome do Humberto como compositor. Humberto só viu quando a música já estava gravada. Humberto contava que sempre deixou bem claro que a música não era dele, Lauro é que havia feito uma gentileza, uma parceria graciosa. Em compensação, muitas músicas de Lauro Maia foram lançadas por iniciativa do Humberto Teixeira, colocando letra. E em todas, mesmo naquelas lançadas após o falecimento de Lauro Maia, que Humberto Teixeira tinha as partituras e poderia lançar como se fossem só dele, ele sempre respeitou o nome do Lauro Maia. Foi a parceria mais profícua. Depois, Lauro conheceu Carlos Barroso, fez musica com vários outros parceiros, como também fazia sozinho. Mas era bem menos. Lançava três, quatro músicas com Humberto Teixeira, pra uma que lançava só, ou com outro parceiro.
Os Vocalistas Tropicais
Ainda em 1945, foi contratado pela Rádio Tupi. No mesmo ano, Orlando Silva gravou outro sucesso de sua autoria em parceria com Humberto Teixeira, Samba de Roça.
No ano seguinte, a dupla teria outra composição gravada, desta vez por Joel e Gaúcho, A Marcha do Balanceio. Suas composições, a partir do lançamento de Marcha do Balanceio, gravada por Joel e Gaúcho, ficariam marcadas por esse novo ritmo. Em 1946, Ciro Monteiro gravou o samba Deus Me Perdoe, parceria com Humberto Teixeira, e os Vocalistas Tropicais gravaram o balanceio Tão Fácil, Tão Bom. O primeiro é considerado uma das obras primas do seu repertório, por boa parte da crítica. No mesmo ano, retornou à Fortaleza por motivos de doença, lá permanecendo por dois anos. Em 1948, voltou para o Rio de Janeiro. Em 1950, Carmélia Alves gravou o baião Trem O Lá Lá, da sua parceria com Humberto Teixeira. No mesmo ano, Stellinha Egg gravou da mesma dupla o baião Catolê e Raul de Barros o choro Faísca.
Lauro e seu amigo Euclides Santana - Arquivo Nirez
Luiz Gonzaga, atraído pelo balanceio, chegou a propor formar parceria com Lauro Maia, mas este, porém, indicou seu cunhado Humberto Teixeira. O balanceio foi considerado de difícil execução para os percussionistas. Foi através de Lauro Maia que nasceu a dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e o baião tomou conta do mundo. Lauro Maia mesmo, nunca tocou baião. Não era a praia dele, pois ele não tinha conhecido a manifestação original do baião em suas pesquisas. Lauro achava que o balanceio era mais interessante. E é quase o mesmo do baião. A diferença só é o que eles chamam de ritmo quebrado. Depois que Lauro Maia morreu, teve algumas de suas músicas lançadas como baião por Humberto Teixeira.
Após sua morte, em 1950, suas músicas continuaram sendo gravadas e fazendo sucesso. Os que melhor interpretaram suas obras foram os conjuntos cearenses Vocalistas Tropicais e Quatro Ases e Um Coringa.
Lauro Maia foi um compositor versátil, eclético, que não se prendeu a radicalismos bairristas nem aos apelos externos. Fez a fusão do carioca com o cearense, do romântico com o jocoso, do clássico com o banal, produzindo peças da mais legítima música popular brasileira. Música, porque era catedrático em teoria e em sensibilidade; popular, porque atingia a massa; e brasileira porque sabia fazer cheirar à terra tudo o que criava. Pesquisador incansável e estudioso diligente, procurou adaptar os ritmos populares aos sons urbanos, encantando o Brasil com sambas, balanceios, baiões, batuques e miudinhos. Gostava muito de explorar o folclore. Teve vários casos de músicas influenciadas pela cultura popular, músicas regionais, e outras que fez adaptações. Cantava muito o trem, a estação, regionalidades. Faleceu prematuramente no dia 05 de janeiro de 1950, com 36 anos e dois meses, vítima de tuberculose, no Rio de Janeiro.
Arquivo Nirez
Embora fosse uma celebridade em sua época, Lauro Maia estaria completamente esquecido nos dias de hoje, se não fosse o louvável empenho do compositor Calé Alencar e do pesquisador Nirez no sentido de resgatar a sua obra para a posteridade. Em sua homenagem, Fortaleza lhe presenteou com uma rua.
Imagem Google Earth
Em 1993 foi apresentado no Teatro José de Alencar em Fortaleza o show "Lauro Maia - 80 anos", em sua homenagem, com o lançamento de um CD com composições de sua autoria interpretadas, entre outros, por Vocalistas Tropicais, Gilberto Milfont, Falcão, Fagner e Ednardo.
Para a maioria das pessoas, o nome de Lauro Maia talvez não se associe, imediatamente, a música. Afinal, entre tantos e tantos autores, quem seria mais este compositor de obra restrita a uma época de nossa MPB! Entretanto, se for lembrado que há 30 anos, em seu terceiro elepê na Odeon, o baiano João Gilberto incluiu uma deliciosa canção chamada "Trem de Ferro", talvez a memória se avive e ao menos os que tem maior interesse pela nossa cultura popular se liguem a esse compositor cearense, que morreu ainda jovem e cuja obra mereceu o mais completo levantamento que só um estudioso e pesquisador apaixonado como Miguel Ângelo de Azevedo - o Nirez poderia fazer. "O Balanceio de Lauro Maia" (Secretaria da Cultura, Turismo e Desporto do Ceará, 107 páginas, 19 ilustrações, 1991), acrescenta-se a bibliografia de nossa MPB.
Lauro Maia, embora tendo vivido a maior parte de sua vida em Fortaleza tem ao menos duas ligações com o Paraná. Seu filho, Lauro, 45 anos, casado com Vilma, paranaense de Londrina, mora naquela cidade, onde nasceram os filhos Tatiana (1977) e Lauro Maia Telles Neto (1979). A cantora Stelinha Egg, a nossa vocalista que mais se projetou nacionalmente, há 41 anos, gravou postumamente uma das músicas de Lauro "Catolê", criada sobre motivos populares da região de Cariri. Humberto Teixeira (1916-1979), cunhado e o principal parceiro de Lauro Maia, fez algumas alterações sobre a canção original entregando-a ao maestro Lindolfo Gaya (1921-1987), que acompanhou a Stelinha, sua esposa, na gravação feita pela Capitol em 1950 (posteriormente a Sinter reeditaria o mesmo 78 rpm).
Sobre o Livro
Nirez não se limitou apenas a fazer a sua biografia: estudou cada uma das músicas, comentou as letras, fez observações interessantíssimas. Também a época em que Lauro viveu - desde o ano de seu nascimento - é rememorada. No Rio de Janeiro, para onde foi em 1945 - quando já haviam sido aprovadas sete de suas músicas (uma delas por Orlando Silva, "Eu Via a Chica Boa"), Lauro conheceu o seu cunhado, Humberto Teixeira, nascendo uma grande amizade e parceria, entre as quais dois sucessos carnavalescos - "Só uma Louca não Vê" e, especialmente, "Deus me Perdoe" (1946, na voz de Ciro Monteiro).
Trabalhando como pianista na editora dos irmãos Vitale, atuou também em cassinos e algumas rádios. Criador de ritmos - o "balanceio" seria sua marca registrada - Lauro poderia ter sido parceiro de Luiz Gonzaga (1912-1989). Conta Nirez: - "Quando começou a lançar os ritmos no Nordeste como o balanceado, a ligeira e o miudinho, o cantor, acordeonista e compositor Luiz Gonzaga que também vinha lançando ritmos nordestinos como o xamego e o calango, tentou com ele fazer parceria no baião, mas Lauro, avesso a responsabilidade junto a outras pessoas, pois gostava de compor só, ou com Humberto Teixeira que burilava suas peças, encaminhou Gonzaga a Humberto, como advogado com escritório montado na Avenida Calógeras. E foi assim que nasceu o baião urbanizado". Se não tivesse sido modesto, talvez Lauro Maia não seria hoje um nome quase esquecido. Felizmente, Nirez o retirou deste quase anonimato!!!
Fontes: Nirez, Clique Music, Aramis Millarch (Estado do Paraná) e Viva Terra
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