Velho chefe índio
Ceará

Velho chefe índio





Férias escolares. Início da década de cinquenta. Estada em Caucaia, na residência dos tios Joanito e Clarice. Rua Coronel Correia, número 406, vizinha à casa do tenente Edson da Mota Correia, amigo daqueles meus familiares.
Aventura sensacional para qualquer moleque de então.
Idas à Bodega do Seu Alves, casado com Dona Odete e pai de Maria de Nazaré, comprar broa, bulim, quebra-queixo, mariola enrolada em palha de bananeira, suspiro, filhó e demais guloseimas.
Visitas a Seu Petrônio, tabelião, com morada e cartório no destacado casarão na entrada da cidade, para ouvi das histórias de sua terra natal, Uruburetama. Nelas, até Lampião, desejoso de invadir o município, não o fez por temer os uruburetamenses.
Artista na marcenaria e por todos requisitado, Seu João, marido de Dona Neném, presenteou-me com a miniatura de ônibus, confeccionado em madeira e flandre, cópia dos verdadeiros da Empresa Vitória que, até hoje, atende aos caucaienses.

Manhã cedo, a chocalhada das tropas de jumentos dos carvoeiros, vendendo carvão e lenha de porta em porta, alvoroçava a meninada. Com permissão dos tangedores, os jegues já aliviados da carga davam-nos montaria. Desde a Cancela de Fiscalização de Trânsito, o então popular “Pau-do-guarda”, até o final da via principal.
Emoção maior coube a dois fatos outros. Somente vistos em filmes do faroeste e, ali, realidade. Um Rifle Winchester 44, conhecido como “Papo Amarelo”, pertencente ao tenente Edson e índios verdadeiros da Tribo Tapeba.
Diariamente, alguns nativos daquela aldeia vinham ao Mercado Público.
À frente do grupo, um idoso, postura e passos firmes, comandava-o. Estatura mediana, porte atlético, cabelos esbranquiçados, tez queimada pelo Sol, olhar sereno e tranquilo. Uma espécie de cocar, com faixa de palha colorida, envolvia-lhe a cabeça e fixava algumas penas multicores. Somavam-se a ele os colares elaborados com sementes de plantas e dentes de animais e duas listras paralelas, em cores amarela e vermelha, pintadas na face, desde o centro de uma bochecha até ao da outra.
O grupo mercadejava caranguejos, mocororó - bebida fermentada de caju que produziam, frutas e artefatos de palha de carnaúba, como abanadores para fogões e fogareiros, cestos, urus, esteiras, vassouras, espanadores e demais utensílios caseiros usados à época, que confeccionavam.
Por mais de uma vez, quando tia Clarice adquiriu seus produtos, o velho chefe índio passou a mão em minha cabeça e desejou-me muita sorte na vida.
De volta às aulas, no Colégio Lourenço Filho, a professora Antonieta Acioly determinou para todos da classe a feitura da redação “Minhas férias”.
Nosso trabalho mereceu a leitura pela mestra e os colegas queriam saber tudo sobre aqueles ancestrais indígenas.
Creio, daí, o nascedouro da estima que empresto aos causos, causoeiros e contadores de histórias.

                                                                                                                                                               Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
  



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